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Hegel


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Hegel, por Silva, f. de l.


vb. criado em 14/04/2015, 23h18m.

O mais completo sistema filosófico já elaborado é o de Hegel: a que mais resolve, na modernidade, a ambição da totalidade (Sartre). A totalidade é uma vocação da filosofia, e H. foi o que chegou mais perto da totalidade. Totalidade = a realização do absoluto, tanto na dimensão da lógica como na dimensão da história.

Tudo que é real é racional; tudo que é racional é real. Realidade = razão.

Absoluto = conhecimento. Portanto é possível a) conhecer e b) justificar a totalidade. Faz-se isso reconstituindo o percurso do espírito absoluto na direção da sua identificação (o espírito tornando-se conhecido de si, desvelando-se para si), e compreender que a razão sempre governou esse processo.

A filosofia de Hegel valoriza -- e resolve -- a questão do devir, do vir-a-ser, da instabilidade, mudança, que sempre foi problema para os antecessores.

A realidade é movimento porque sua essência é história, é um processo que se desenvolve na direção do seu fim, da sua realização.

Não se trata apenas de lógica, mas também da história, da experiência da humanidade, num desenrolar dramático, contraditório.

A negação, a contradição, as oposições, tornam-se tema de reflexão porque fazem parte da aventura humana.

humanidade = espírito rumo ao conhecimento do seu ser absoluto, deixando uma noção vaga (abstrata) de si mesmo e indo na direção do reconhecimento da sua completude.

Contradição = motor da história. História = trajetória que progride através da negação. A realidade posta, seguida de negação dessa realidade, a posição dessa negação, e depois outra negação que reconcilia as duas etapas anteriores num patamar superior.

Racionalidade dialética. A evolução se dá pelo trabalho do negativo, sem o negativo (a negação) não haveria movimento histórico.

O movimento dialético (lógico e histórico) tem como finalidade a derradeira superação de todas as oposições. Estas são constitutivas da realidade, têm um trabalho efetivo de constituição do real.

Afirmar - negar - negar a negação - conciliar os opostos (síntese final, reconciliação, reconhecimento do espírito por si mesmo). O real é tecido de contradições, mas no absoluto todas as contradições serão reconciliadas.

Quando o espírito absoluto se realizar (a trajetória chegar ao final) perceberemos o sentido de todas as etapas e fatos.

A identidade do absoluto se desvela nesse processo, o espírito passa de uma intuição vaga de si mesmo ao autoconhecimento pleno, real, concreto.

De um ponto de vista lógico tudo está dado no início, porque no início há o ser, só que um ser abstrato, vazio e indeterminado. Ao fim, haverá ainda o ser, mas pleno de determinações, efetivado e realizado, e, por isso, concreto, preenchido pela história.

Efetivo = o real, no sentido forte (determinado, concreto).

O absoluto é o mais concreto (frase controversa).

A realização histórica e lógica do absoluto é regulada pela mais estrita necessidade. Não existe acaso. Todas as determinações ao longo do trajeto não podem deixar de ocorrer nem ocorrer de outro modo. Por isso se pode determinar (ao fim) racionalmente o sentido da história. Se não houvesse uma lógica nos fatos não poderíamos achar sentido neles.

A missão filosófica é entender o presente; não se trata de compreender nem o que foi nem o que será, mas o que é.

Só que como esse presente é um fragmento de um devir incessante, sua importância se pulveriza; a preocupação com o absoluto dilui o presente (os sucessivos e incontáveis presentes ao longo do processo). Como se o processo histórico fosse só uma condição provisória para que a verdade absoluta se manifestasse. As sinuosidades da experiência humana (sofrimentos, contradições) se tornam irrelevantes. Então a questão é: como, nessa filosofia de totalidade o presente pode ser relevante, essencial?

A ave de Minerva só levante voo ao cair da tarde. A sabedoria se constitui quando a história já morreu. A compreensão histórica supõe uma visão reconstituidora dos acontecimentos, uma visão da gênese.

realidade = processo = constante vir-a-ser = transformação. Quanto mais intenso o devir mais intensa está sendo a vida histórica da humanidade; o desaparecimento das coisas é movimento, vida, renovação do real.

Tudo aquilo que existe está destinado a tornar-se outro, por meio da negação. Esse é o processo de realidade. Compreender a realidade em seu ser é entender como ela vem-a-ser. Não se faz olhando um momento estático, é preciso analisar a partir do caráter processual. Estudar o presente implica em enxergar sua gênese e entender todo o movimento que o constituiu, e o movimento que o levará à transformação. O passado constitui este presente, mas o movimento em direção ao absoluto também o constitui.

m.c.: o que diacho é “movimento em direção ao absoluto”?

O sentido se forma no processo do vir-a-ser. Na medida que é já está deixando de ser, para ser substituído por outro.

Paradoxo na compreensão do tempo: a dimensão mais real do tempo vivido é o presente, único tempo vivido, real. Deveria ser o tempo forte, dentre todos, mas não é, porque é transição indefinível, imperceptível, evanescente, difícil de identificar diante da massa de passado que o constitui e do futuro que já vai se construindo. O presente escapa, evanesce.

A realidade é o devir (não é o passado, nem o presente, nem o futuro) visto como manifestação da razão; só o que podemos chamar de real é o processo, o devir.

Devir não é aleatório, nem somatória de acasos; tudo é regido pela racionalidade, pela necessidade absoluta, pela determinação racional. A história é lógica, e a lógica é história.

A razão (o racional) é o que existe de mais real.

Hegel contesta a ideia da filosofia clássica (Descartes, por exemplo), que divide a realidade sensível (a experiência histórica) de um lado, ininteligível, caótica, e de outro lado a razão, a dimensão dos conceitos, inteligível, previsível, coerente, concatenada. Para Hegel esse dualismo é a realidade cindida, artificialmente dividida, o espírito indevidamente separado de si.

Encarnação: no sentido cristão; o que acontece nesse fenômeno é o fim da distinção entre homem e deus, há um deus que se torna homem sem deixar de ser deus, e um homem que é homem sem deixar de ser deus.


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